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terça-feira, 13 de maio de 2025

Morre José Mujica, o ousado político uruguaio que foi o 'presidente mais pobre do mundo'


 Não era nem meio-dia quando José Mujica nos surpreendeu oferecendo "um gole de whisky", logo após uma entrevista em sua casa, em 2012, quando estava na metade de seu mandato como presidente do Uruguai.

Lavou alguns copos, colocou gelo e os encheu generosamente com a bebida. Depois, distribuiu as doses, e iniciou uma conversa descontraída que pulava de um assunto para outro.


"Da política vou sair com os pés na frente", disse naquela ocasião à BBC Mundo — serviço em espanhol da BBC — o ex-guerrilheiro tupamaro, que governou o Uruguai entre 2010 e 2015.

Como isso, Mujica queria dizer que pretendia se dedicar à atividade que abraçou ainda jovem até a hora de sua morte - anunciada nesta terça-feira (13/5) pelo presidente uruguaio, Yamandú Orsi, em mensagem pelo X (antigo Twitter). Mujica tinha 89 anos.

Pela simplicidade que viveu como presidente, suas críticas ao consumismo e as reformas sociais que promoveu — incluindo a que fez do Uruguai o primeiro país do mundo a legalizar a maconha —, Mujica foi uma figura emblemática para a esquerda da América Latina. Ok

Sua popularidade teve alcance global, algo inusitado para um mandatário uruguaio, ainda que, dentro do próprio país, de 3,3 milhões de habitantes, seu legado gere controvérsias.

'Uma corrida infinita'

Durante seu mandato, José Mujica não se mudou para a residência presidencial, como costumam fazer os chefes de Estado ao redor do mundo.

Preferiu continuar, junto com a esposa, a ex-guerrilheira Lucía Topolansky, vivendo em sua modesta casa em um sítio nos arredores de Montevidéu, sem empregados domésticos, e com pouca segurança. O casal nunca teve filhos.

A isso, soma-se seu estilo informal de se vestir, o hábito de dirigir um velho Fusca azul-celeste de 1987, e a decisão de doar grande parte do seu salário, o que lhe rendeu o título na imprensa de "o presidente mais pobre do mundo".

Mas Mujica, conhecido em seu país pelo apelido de "Pepe", sempre rejeitou esse rótulo.

"Dizem que sou um presidente pobre. Não, eu não sou um presidente pobre", disse em entrevista à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

"Pobres são os que querem sempre mais, que não se satisfazem com nada", afirmou. "Esses são pobres, porque entram em uma corrida infinita. E não terão tempo suficiente na vida."

'Anos de solidão'

Embora muitos o enxergassem como alguém fora da classe política, Mujica nunca foi um 'outsider'.

Dizia que sua paixão pela política, assim como pelos livros e pela terra, vinham de sua mãe, que o criou, junto com sua irmã mais nova, em um lar de classe média. Seu pai morreu quando tinha apenas 7 anos.

Quando jovem, foi militante do Partido Nacional, uma das forças políticas tradicionais do Uruguai, que mais tarde faria oposição de centro-direita ao seu governo.

Na década de 1960, participou da fundação do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), uma guerrilha urbana de esquerda que praticou assaltos, sequestros e atentados armados, influenciada pela revolução cubana e o marxismo. Foi capturado quatro vezes.


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